19/09/12

 

Um hotel de luxo não segura seu prestígio só no conforto e na beleza das instalações. Nesse mercado cada vez mais exigente, ter um restaurante com pratos assinados por chefs renomados é quase que item básico e obrigatório. Confira esse interessante artigo escrito por Tatiana Silvestri para o Gestão do Luxo:

 

Já se foi a época quando instalações suntuosas e suítes de realeza eram suficientes para posicionar um hotel no patamar de alto luxo. Atualmente, todo hotel de certo prestígio se vê obrigado a contar com um excelente restaurante como diferencial em um panorama hoteleiro cada vez mais competitivo e estandarizado. Mas não são somente os hotéis que precisam de chefs renomados. Um dia Ferran Adrià proclamou que a alta cozinha somente poderia se consolidar se fosse abrigada por hotéis de alto luxo. E o chef catalão estava certo.

 

Hoje é assim, um bom hotel precisa de um chef estrelado. Esses chefs, por sua vez, estão cada vez mais seduzidos pela infraestrutura oferecida pelos estabelecimentos de alto padrão. O certo é que, desde os anos 1990, os melhores hotéis do planeta começaram a ver a gastronomia como parte essencial de seu negócio. Londres, Nova Iorque, Paris e outras metrópoles se lançam a dignificar sua oferta gastronômica hoteleira.

 

O número de restaurantes estrelados nos hotéis comprova essa tendência. Para se ter uma ideia, em sua mais recente edição, o guia Michelin Main Cities of Europe 2012 apresenta uma seleção de hotéis e restaurantes de 44 cidades em 20 países europeus. A edição conta com mais de 3.600 estabelecimentos, dos quais 2.100 são restaurantes e 1.500 são hotéis.

 

Ao menos sete restaurantes com três estrelas Michelin estão abrigados em hotéis: Le Cinq, no Georges V, e Pierre Gagnaire, no Hotel Balzac, em Paris; Jean Georges, no Trump International, em Nova Iorque; La Pergola, no Hilton Cavalieri, em Roma; e os três de Alain Ducasse: Le Louis XV, em Montecarlo; La Cour Jardin, em Paris; e Adour, em Nova Iorque.

 

Para que um restaurante conquiste a qualificação máxima de três estrelas Michelin, ele tem que combinar a alta gastronomia com uma criatividade luxuosa e um serviço que prima pela excelência.

 

Em Paris, um dos grandes exemplos é o restaurante Le Cinq, do Hotel Four Seasons George V. Seu elegante salão está decorado com ouro e suas toalhas e louças foram desenvolvidas especialmente para a casa do chef Philippe Legendre. Os pratos são preparados sempre com ingredientes regionais frescos, inspirados em técnicas culinárias da cozinha francesa clássica e incluem também estilos de cozinha contemporâneos. O menu muda a cada temporada, mas certas especialidades, como a torta de alcachofras e trufas negras do Périgord ou o frango de Bresse e a lagosta George V permanecem na carta.

 

Na mesma cidade, encontramos o restaurante de Pierre Gagnaire no Hotel Balzac. Espontaneidade e instinto são os pilares que sustentam a cozinha desse imaginativo e influente chef. Dono de uma cozinha inspiradora e ousada, Gagnaire é um catedrático em gastronomia molecular. A decoração sofisticada compõe paredes forradas de madeira e uma tênue luminosidade que recriam um ambiente íntimo, para degustar os pratos especiais da casa: surtido de foie de pato ou linguado com purê de cereja.

 

Em Roma, o La Pergola, sob o comando do chef Heinz Beck, do hotel Roma Cavalieri Hilton, traz uma atmosfera luxuosa e multicultural em um ambiente monocromático com uma vista panorâmica para a cidade. Sua cozinha propõe uma exceção no universo de massas que protagoniza a comida italiana. Beck mescla pratos típicos regionais com receitas de origem germânica para criar delícias como medalhões de bogavante com tomate ou purê de berinjela.

 

Localizado ao lado do Cassino de Monte Carlo, o Le Louis XV, um dos restaurantes de Alain Ducasse, oferece um menu tão requintado como seu ambiente de estilo clássico sofisticado. Nele, a cozinha mediterrânea é a diretriz do renomado chef. A maioria dos pratos é sazonal. As trufas são sua especialidade.

 

Do lado de cá do oceano, Jean-Georges Vongerichten, francês da região da Alsácia, é um dos chefs mais importantes dos Estados Unidos. Aclamado pela crítica, investe na cozinha francesa moderna e é o responsável por influenciar chefs de toda uma geração. Em seu restaurante de Nova Iorque, o Trump International, o ambiente requintado e moderno traz especialidades como lagosta ao creme de couve-flor e filé alto com pimenta negra.

 

Os detalhes da parceria entre chef e hotel são obviamente confidenciais, mas duas coisas são certas: o hotel ganha exposição na mídia graças ao nome do chef, que, por sua vez, se vê respaldado economicamente. Pesquisar novos sabores, texturas e tendências consome tempo e dinheiro, e restaurantes sem ligação com grandes empresas não têm cacife para sustentar os investimentos necessários. 

 

Longa data

 

A tendência volta depois de quase um século adormecida. Em outubro de 1884, o jovem empresário hoteleiro César Ritz chamou o chef mais renomado da França, Auguste Escoffier, para comandar a cozinha do Grand Hôtel de Montecarlo. Foi o início de uma grande amizade. E também o começo de uma nova era, já que, com a parceria, Escoffier se converteu no cozinheiro mais influente de seu tempo, e Ritz no inventor de um estilo que prevaleceu até hoje como modelo de hotelaria de alto luxo. Com a união nasceu a era moderna dos restaurantes de hotel.

 

Até então, os hotéis estavam ligados tradicionalmente a cafés, balneários, cassinos e inclusive salões de festas, sem que os empresários hoteleiros tivessem considerado a gastronomia como um atrativo de primeira ordem para seu negócio. Ritz apostou em Escoffier para reanimar o Grand Hôtel e disputar a liderança em Mônaco com o recém-inaugurado Hôtel de Paris simplesmente porque não tinha dinheiro para reformar suas instalações.

 

O investimento funcionou. O chef Escoffier o seguiria com o Savoy em Londres, o Grand Hôtel em Roma, o Ritz em Paris (onde já eram sócios), o Carlton em Nova Iorquee muitos outros estabelecimentos que a dupla teve até que o chef se aposentou, com 73 anos, para viver na Costa Azul e inventar com Julius Maggi os cubinhos de caldo instantâneo.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here