02/06/12
Casado há 32 anos com Janete do Carmo Frasson, pai da Vitória, de 20 anos, e de Kênia, 36, – filha do seu primeiro casamento – e avô de Lucas, 12 anos, e Nikolas 18 anos, Fernando Palhares foi o pioneiro no mercado de show no Espírito Santo. Ele chegou a Vitória em 1976, vindo de Governador Valadares, sua idade natal minha cidade. Iniciou seu trabalho no ramo de festas em 1978 até 1982, quando fez o primeiro show, com Alceu Valença. Daí para frente foram 790 shows realizados, dentro festa agropecuárias e de prefeituras. Seu slogan, que lembram até hoje, era: "Fernando Palhares, este nome da show".
Você foi o pioneiro em trazer ao estado grandes eventos e shows. Conte quando e como surgiu a ideia, como tudo começou?
A ideia do primeiro show foi quando eu fazia umas festas na boite Blac Horse, antiga Papagaio, onde funciona hoje, salvo engano, a São Firmino. Os proprietários da casa resolveram não me alugar mais a casa, e as festas que eu fazia lá lotavam, mas a casa normalmente não. O primeiro show foi do Alceu Valença, Cavalo de Pau. Sonhei com o Alceu, na verdade nunca o tinha visto, estávamos andando pelas ruas de Vitória, e caimos em um buraco, tinha algo neste buraco que prefiro não falar aqui. Aí pensei vou fazer este show. Fui contratar o Alceu no Rio de Janeiro, na casa dele. Sua empresaria e sua mulher era a Anelise Alvim, e numa maquina de escrever Oliveti, na cozinha da casa, ela fez o contrato. Mas eu não tinha o dinheiro que ela pediu para os 50% do contrato. Não lembro o valor, mas ela disse: 'você paga os 50% no contrato e o restante você me dá no dia do show em Vitória". Considerando que não tinha internet, avião era só para os ricos e eu tinha conseguido chegar no endereço dele, então sabia que estava fazendo a coisa certa. Mas e o dinheiro? Voltei para Vitória, procurei umas pessoas para entrar comigo no negócio, umas até disseram que eu não estava bem, e bati em várias portas. A única saída foi vender o meu fuscão, azul, pneus tala larga, rodas cromadas, volante fórmula 1, toca fita de gaveta, todo lindo, ano 71, havia comprado com o dinheiro das festas, na época ficar sem ele não imaginava. Vendi e fui levar o dinheiro, sem esta de depositar em conta. Cheguei lá com aquele pacotão de dinheiro, coloquei em cima da mesa e falei pra ela: 'Vamos assinar o contrato'. No dia do show – , foi em outubro de 82, no Ginásio Dom Bosco, não tinha ainda sido construído o Ginasio do Álvares Cabral, – os ingressos estavam todos vendidos, 8 mil ingressos na epóca, para se ter a ideia do dinheiro do lucro, eu poderia comprar vários e vários fuscas igual ao que eu tinha. Depois na sequência teve o show da Rita Lee, outro estouro, e em seguida, a Blitz, mais uma vez sucesso. Aí então fui em frente e, após 1983, a cidade de Vitória começou a ser incluída nos roteiros das grandes turnês. Até então as turnês com os artistas nacionais começavam em São Paulo, Salvador ou Rio de Janeiro e depois iam para todo o nordeste.
Quais os principais artistas que trouxe ao ES?
Artistas que vieram aqui por meu intermédio, da minha geração acredito que quase todos: Roberto Carlos, Rita Lee, Paralamas, Titãs, Legião Urbana. Kid Abelha (com a Paula Toller: linda, novinha e super tímida) , Barão Vermelho, Nenhum de Nós, lnimigos do Rei, – também o amigo do Rei, Erasmo Carlos, – Lulu Santos, (um porre), Marina Lima, Simony, Gal Costa, Vagner, Léo Jaime, Eduardo Dusek, Dominguinhos. Gilberto Gil, Chitãozinho e Xororó, Leandro e Leonardo, Caetano Veloso, foram alguns dos shows nacionais. Já shows intenacionais foram: Ray Connif, lnformation Socayati, Concan, Snep, Julio iglesias, Gpsy Kings, lnercicle , considerando que quase todos estes nomes vieram aqui várias vezes, menos o Julio lglesias e o Gpsy Kings, que vieram apenas uma vez.
No teatro Carlos Gomes, os shows foram de Renato Teixeira, Geraldo Azevedo. Paulinho Pedra azul, Saulo laranjeiras, Jorge Mautiner, Zé Gerado, entre outros. Tiveram também os infantis: Balão Mágico, Xuxa, Bozo, Trem da Alegria,… vixe, foram muitos.
E quais foram os shows que mais surpreenderam e com maior público?
O maior público em um show foi no Sandy e Junior, no Estádio do Vitória. Estava chovendo muito e mesmo assim foram 18 mil pessoas. Os shows com maior público no ginásio Alvares Cabral foram 'Vida Bandida', show do Lobão; e os três shows do Legião Urbana, realizados aqui.
E como funcionava a burocracia e liberação para os eventos na época?
Vitória é a capital do Brasil que tem mais burocracia para se liberar um show, e naquela epoca já existia. Fizemos a associação, mas o pessoal da epóca não se tocaram. Era muita perseguição para a liberação de shows. Uma vez foi muito difícil conseguir a liberação par ao show apenas porque um caminhão de som estava entrando no portão, na av. Beira Mar, e esbarrou em um galho de uma árvore e o quebrou.
Algumas curiosidades de bastidores? Algo inusitado que aconteceu durante os shows?
Olha, tem uma bem especial, mas prefiro não falar porque foi uma situação com o Roberto Carlos, e o cara é uma figura. Outra foi com o Julio lglesias, como brincava, no camarim, parecia uma criança, não estava nem preocupado com a quantidade de público, era como se fosse um adolescente fazendo seu primeiro show. Com a Legião Urbana, aconteceu também algo inesperado uma vez, quando a banda entrou no ônibus no aeroporto, um rapaz entrou no ônibus, se ajoelhou e beijou a mão do Renato Russo. Uma vez também contratamos o show do Lobão e nesse intervalo tempo o empresário dele e ele romperam. O empresário na epoca ficou com o dinheiro que tinhamos pagado, mas o Lobão veio coma banda para cumprir a palavra. O contrato com a mudança de empresário já não tinha efeitos legais. Uma figura o Lobão, doidão na epóca, mas muito correto.
Outra vez em um show do Legião Urbana, a categoria dos motoristas de ônibus, iam defragar uma greve no dia do show. Participei da Assembleia e pedi ao sindicato na época, que fizesse a greve depois do show. E aí começaram a greve no dia seguinte pela manhã, após o show.
E outra que lembrei. A Polícia Militar na época cobrava R$ 50,00 ( cinquenta reais) por policial que mandava ao shows. Em uma reunião no quartel em Maruípe falei que não precisavam mandar muitos policiais, pois os custos eram altos. Era um Show do Lobão, Vida Bandida. Falaram que se não fosse o número de policiais que queriam não mandariam nenhum, concordei assim. Fizemos o show com 10 mil pessoas, sem policiamento, sem confusão, sem uma briga.
Quais artistas foram mais complicados e exigentes?
A respeito dos shows com o Roberto Carlos, presenciei algumas das particularidades dele, mas prefiro não citar por respeito a pessoa dele. O artista que nos deu mais problemas foi o Lulu Santos, na época muito complicado e muito estrela. Foi preciso uma vez dar uma geral para ele no camarim, quase na hora do show, para ele ficar quieto e fazer o seu trabalho.Uma dupla de muito sucesso na época, João Mineiro e Marciano, vieram contratados para tocar em lúna , interior do estado, no centenário da cidade. Eles estavam estourados, eram a bola da vez com o música "Ainda ontem chorei de saudade". Um deles começou a arranjar problemas dizendo que não iria comer em qualquer restaurante de beira de estrada, e sim depois do show. Depois do show, tudo fechado em luna, cada um comeu um marmitex, e acharam maravilhoso.
Hoje você ainda está na área, mas prestando consultoria. Como funciona esse trabalho?
Hoje faço uma consultoria completa, com pesquisa de mercado, para saber qual o show que pode acontecer que tem demanda, o espaço, mídia , liberações, som , palco, seguranças, passagens, traslados, iluminação, toda parte técnica e a produção executiva. E estou criando um site onde você monta o tipo de evento que está querendo, como também o serviço de bar, estacionamento, condições climáticas e outros.
Como percebe o mercado de eventos hoje no ES? Quais as principais mudanças de quando começou até agora?
Mudou muito, os grandes shows literalmente não existem mais, os produtores que aí estão, até uma rapaziada legal, acabam se atropelando. Mudou muita coisa, estamos hoje online, na época fizemos uma Associação dos produtores do Estado, mas o pessoal não se tocou. Hoje tem gente fazendo eventos para se ganhar no bar, na nossa época o bar era do Álvares Cabral e nós nem tomavámos conhecimento.
Os shows hoje são muito repetitivos, o mercado não tem novidades, é sempre a mesma coisa. E o Álvares Cabral, agora Arena Vitória, é o melhor ginásio do Brasil para realização de eventos, foi projetado para grandes shows, e segurança, suas 2 portas laterais na beira do palco , uma em cada lado, são fantásticas. Em qualquer situação de emergência, o público consegue sair em poucos minutos. A acústica é uma maravilha. Lembro que foi inaugurado com um show do Roberto. Mas, como dizia um amigo meu, Alvim Barbosa, – que já foi para o andar de cima- : "O show bis é feito de esperança".
E com toda essa experiência e histórias, há algum projeto de publicar algo para o mercado?
Pretendo escrever um livro contando todas estas histórias. Já estou juntando material, mas tem muita coisa, muitos detalhes. O Eustáquio Palhares, meu irmão e amigo, é quem vai cuidar disso.
Agora um bate-bola sobre o que gosta no dia a dia….
Faz atividade física? Qual?
Tênis e caminhada.
Uma música?
Tente outra vez, Raul Seixas.
Uma viagem inesquecivél e um lugar que ainda deseja conhecer?
Sinceramente, hoje estou com vontade de conhecer Madri, na Espanha.
Mar ou Montanha?
Gosto dos dois, são duas energias maravilhosas.
Um Refúgio?
Tenho um pequeno sítio a uns 60 km de Vitória, nas montanhas, coisa simples, uma bela mata, um riacho de águas limpas, uma casinha bem simples, mas confortável, com fogão de lenha especial. Lá não tem telefone nem tv, nem internet. Gosto de tirar uns bichinhos de pé com canivete na varanda, e tomar banho nú no riacho. Faço umas trilhas no meio da mata, devidamente equipado. Depois de minha casa, é o melhor lugar do mundo, só natureza.
Um livro?
Cem anos de solidão, li quando jovem e ainda lembro.
Um filme?
Vi filmes maravilhosos. Mas fico com Papilon e Quase Deuses.
Um restaurante?
Pirão, do meu amigo ratão velho, Hercilio Pirão.
Uma comida?
Um arroz, feito na hora, meio molhadinho, com azeite doce, feijão, e um ovo mal passado em cima.
Deus?
Importante acreditar, melhor ainda tentar praticar seus ensinamentos. Quem está ligado nesta força universal, pode ate balançar, mas não caí.
Família?
A base, a superação, é sagrada
Uma frase que é seu lema de vida?
O Senhor é meu Pastor e nada me faltará.
Esse cara dá show. Admiro muito seu talento… Trabalha com garra e transparência e seriedade.
Fabio Freitas RC cover.
Ja trabalhei com fernando palhares com minha Banda Forca de expressão ele é uma Referência no mundo musical seriedade e profissionalismo