27/09/1

Alexandre José Guimarães ingressou na faculdade  de Direito com 16 anos e, já naquela época, ficava incomodado com as muitas injustiças sociais. Após muito trabalho e estudo,  e depois de 12 anos como procurador de Justiça do Ministério Público do Espírito Santo,ele foi promovido por merecimento  ao cargo de 1º Procurador de Justiça da Procuradoria de Justiça Criminal de Vitória. Além de uma brilhante carreira, Alexandre, construiu uma bela família. "Tenho dois filhos maravilhosos, um com 20 e outro com 5 anos de idade, e sou casado com uma mulher extraordinária, com quem pretendo envelhecer", diz ele. Neste entrevista, ele conta sobre seu trabalho, analisa o país e o estado e ainda fala sobre o que gosta na vida. Confira: 
 
 
Conte-nos um pouco  sobre sua carreira na Justiça? 
Com 20 anos conclui o curso e exerceu trabalhou como advogado  por  três anos Em 1990, com 23 anos, foi  aprovado em concurso de provas e títulos para o cargo de promotor de justiça substituto."Trabalhei durante duas semanas em Vitória, sob a supervisão de promotores mais experientes e fui designado para a São Mateus, Pinheiros, Boa Esperança, Conceição da Barra, Vila Velha e Vitória", lembra ele. Após cinco anos de exercício e promoções para promotor de justiça de 1a., 2a., 3a. entrâncias e entrância especial, foi convocado para assessorar o Procurador-Geral de Justiça e nessa função permaneceu por cerca de 10 anos. Em 1995, a pedido do Procurador-Geral de Justiça e em parceria com o Poder Judiciário, participei do projeto denominado "Central de Flagrantes". Por esse projeto, todas as pessoas presas e autuadas em flagrante delito eram encaminhadas ao Poder Judiciário, denunciadas e processadas em ritmo muito célere. Em várias ocasiões uma ação penal inteira não durou mais do que 60 minutos e o resultado social começou a ser notado. Começávamos a trabalhar por volta das 7h e somente após o último julgamento deixávamos a sala de audiências, muitas vezes após a meia-noite. Posteriormente, como assessor jurídico do Procurador-Geral de Justiça, sugeri que as ações de inconstitucionalidade fossem propostas perante o tribunal de justiça, conforme permite a Constituição estadual e pude testemunhar julgamentos céleres, muitas vezes em pouco mais de trinta dias, e de grande valor social. Naquela época a remuneração não era boa e as condições de trabalho duríssimas! Não tínhamos qualquer serviço de segurança e o Ministério Público dependia do Poder Executivo para quase tudo. As comarcas não dispunham de promotorias de justiça e não havia local adequado para o atendimento a população. As ameaças eram frequentes, mas a construção de um novo Ministério Público era apaixonante. Em 1997 conseguimos aprovar a Lei Orgânica do Ministério Público do Espírito Santo (Lei Complementar 95/97) e, a partir desse marco, houve uma grande transformação institucional, principalmente com a aquisição de sede própria e construção de promotorias de justiça nas comarcas. Outro fator importante nessa época foi a compra de computadores e de impressoras para os promotores e procuradores de Justiça, fato que permitiu um atendimento mais célere e eficiente à população e, também, maior conforto para o exercício da honrosa profissão. Em fevereiro de 2002, após cerca de doze anos de Ministério Público, fui promovido por merecimento para o cargo de 1º Procurador de Justiça da Procuradoria de Justiça Criminal de Vitória, aos 34 anos de idade. 
 
 
O que percebe de mudanças nos casos que chegam ao Ministério Público de hoje de quando  começou?
A atuação do Ministério Público no começo de minha carreira era essencialmente penal. Com a evolução da legislação passamos a nos ocupar com as questões ambientais, de improbidade administrativa, do consumidor e, de forma geral, dos direitos difusos e coletivos. Desta forma o Ministério Público passou a ser procurado para resolver os graves problemas sociais e, sobretudo, para tutelar o cidadão brasileiro e servir como guardião da Constituição federal.
 
 
Como vê o Brasil hoje?
O Brasil de hoje me entristece. Sou de uma época de inflação alta, escassez de produtos, falta de oportunidades, instabilidade econômica… E vejo que os avanços conseguidos após a redemocratização estão sendo gradualmente perdidos por uma postura ineficiente dos governantes. Os administradores (presidente, governadores e prefeitos) olvidam das questões necessárias ao desenvolvimento da nação, como investimento em infraestrutura, em educação de qualidade e voltada para a produção de novas tecnologias, dentre outros. A violência é uma triste realidade e não se vê ações eficazes na segurança pública! A mobilidade urbana está comprometida e o poder público incentiva a compra de mais automóveis, em claro descompasso com a necessidade de aumento da oferta de transporte público eficiente e pouco poluente e redução da frota de veículos particulares. A escalada da corrupção é assustadora e não se vê a punição dos culpados, em flagrante desrespeito a todas as pessoas de bem que trabalham, são honestas e procuram viver com dignidade. É aviltante! Preocupa-me, sobretudo, a volta da inflação e da recessão, sem que ações tecnicamente corretas sejam propostas e/ou implementadas. O discurso oficial, incompreensível, mascara a realidade e não enfrenta os graves problemas econômicos que empobrecerão a nação. 
 
E o Espírito Santo, como analisa a situação do nosso Estado?
O Espírito Santo, Estado que tanto amo e que adotei como meu, não vai bem. Os graves problemas sociais, em especial nas áreas da segurança e da saúde, não são enfrentados corretamente e a população está refém da criminalidade e a morrer por falta de saúde pública, como mostram os jornais todos os dias. Na área do comércio exterior sofremos derrotas terríveis, como a perda do FUNDAP, e com isso a receita estadual diminuiu, bem como a capacidade de novos investimentos. Além disso, o Estado tem sérios problemas de natureza portuária, aeroportuária e rodoviária. A ineficiência no campo político é enorme e nossos representantes não são capazes de trazer novos e necessários investimentos. As notícias relativas aos recursos hídricos também não são boas e mostram a falta de planejamento de longo prazo, em clara falta de compromisso com as questões ambientais. Essa carência também se verifica em vários outros setores e, em especial, no de energia. Gostaria de ver os capixabas unidos em torno de um Espírito Santo melhor, mais seguro, com saúde compatível com o princípio da dignidade da pessoa humana e um berçário de desenvolvimento de novas tecnologias.
 
 
Qual será o maior desafio do próximo presidente?
Creio que o(a) próximo(a) presidente terá como maior desafio a economia. A inflação e a recessão são preocupantes e devem ser seriamente combatidas. Outra questão igualmente grave é a da seguridade social (saúde, previdência e assistência social). Em pouco tempo não haverá recursos públicos para pagar as aposentadorias e o atual nível de endividamento inviabilizará a assistência social. O caos da saúde pública deve ser revolvido com urgência, pois se trata de direito social fundamental. É preciso, por outro lado, uma ação conjunta da União, dos Estados e dos Municípios e do Distrito Federal no sentido de se encontrar soluções para os problemas hídricos e de energia elétrica. A falta d'água é um fantasma que assombra o Brasil e o custo da energia é insustentável. É preciso mais seriedade no trato da coisa pública; é preciso respeito aos brasileiros.
 
E do nosso próximo governador?
O próximo governador terá que resolver rapidamente o problema da segurança pública. O banditismo está descontrolado e as pessoas andam sobressaltadas e sem segurança. Um outro desafio importante é tornar o Espírito Santo mais competitivo, com aeroportos, portos, rodovias e, se possível, ferrovias e hidrovias condizentes com as premissas que autorizam o desenvolvimento econômico. 
 
 
 
Agora um pouco sobre você…
 
No que se transformaram seus sonhos de infância
?Quando criança sonhava em ter uma família e poder contribuir para a melhoria da sociedade. Acho que fui bem sucedido, pois tenho filhos maravilhosos, uma mulher singular e posso contribuir para a construção de um futuro social melhor.
 
 
O que você já conquistou que considera essencial?
Acredito que o essencial já foi conquistado. Tenho a família que amo, o emprego que adoro e me realiza e, ainda, posso me dedicar aos estudos. Encontrei na caminhada bons amigos, desafios dignificantes e, sobretudo, paz de espírito.
 
 
O que ainda falta na sua vida?
Espero ver meus filhos encaminhados e, se possível, felizes. Profissionalmente gostaria de viver o suficiente para plantar novas sementes a fim de contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e menos desigual. 
 
 
Qual tarefa doméstica que te deixa louco?
Limpar as janelas e seus cantos! Levo horas, principalmente com o pó preto de Vitória.
 
 
Qual seu "guilty pleasure"?
Dormir depois do almoço.
 
 
O que você gostaria de ganhar de aniversário?
Um bom livro. 
 
 
Qual foi sua última compra?
Uma bicicleta elétrica para ir ao trabalho e fugir do trânsito caótico de Vitória.
 
 
As próximas férias serão em…
Na Europa.
 
 
 Uma música?
Concerto n. 2 de Rachmaninov.
 
 
 Um vinho?
"Clos I Terrasses Clos Erasmus". Um grande espanhol! Apesar de não beber mais, esse vinho foi marcante.
 
 
Um restaurante?
Há vários restaurantes que adoro, mas, em  Vitória, meu favorito é o Lareira Portuguesa.
 
 
Uma comida?
Há muitos pratos maravilhosos, mas, como tenho origem portuguesa, o arroz de pato!!! Lembra-me a infância junto com meus avós.
 
 
Você não pode viver sem…
Minha família.
 
 

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